PDE 2030: potencial de cogeração poderia ter sido mais bem avaliado

Na matriz elétrica, a cogeração das biomassas, em particular, tem participação de 8,4%

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NEWTON DUARTE, DA COGEN VER TODOS OS ARTIGOS DESTE AUTOR

Uma das formas mais eficientes de se produzir energia, a cogeração vem prestando inestimável contribuição ao País. Sua capacidade instalada, somadas todas as fontes, já chega a 18,9 GW — o que corresponde a mais de 10% da matriz elétrica brasileira e equivale à potência instalada de 1,3 usinas hidrelétricas de Itaipu (14 GW).

Na matriz elétrica, a cogeração das biomassas, em particular, tem participação de 8,4%. Essas indústrias, embora muitas sejam sazonais, geram energia firme. Nas regiões Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO), as usinas começam a produzir entre março/abril, finalizando a temporada entre novembro/dezembro de cada ano, ou seja, durante o período seco das hidrelétricas.

Entre os muitos atributos da cogeração está justamente a capacidade de guardar água nos reservatórios das hidrelétricas do subsistema SE/CO: as biomassas preservaram 15 pontos percentuais em 2020, condição que evita um deplecionamento operacional ainda maior desses reservatórios, que começaram 2021 com níveis críticos – próximos de 20%, em média.
Outras externalidades notáveis: a qualidade de energia, a baixíssima emissão de CO2 e a previsibilidade do preço da energia gerada.

Soma-se a esse quadro a promissora ascensão da produção do biogás, seja a partir de biomassas, como a vinhaça e torta de filtro, ou dos resíduos sólidos urbanos.

Assim sendo, não deixa de ser preocupante que a relevância dessas fontes não tenha sido suficientemente reconhecida na versão final do Plano Decenal de Expansão de Energia 2030 (PDE 2030).

Em nossa análise, constatamos que esse valioso instrumento público, que orienta políticas e investimentos do mercado, considerou somente 1,08% de participação das biomassas para a expansão de nossa matriz elétrica até o ano de 2030.
Assim como inúmeros agentes do setor, a Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen) contribuiu para o aprimoramento dos dados apresentados, em novembro, pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Em nossa proposta, na consulta pública nº 101/2020, sugerimos que, na publicação final do PDE 2030, fossem reconsideradas as potencialidades das biomassas residuais, dedicadas, e do biogás.

No setor de açúcar e etanol (A&E), não foi considerada a possibilidade do retrofit nas usinas que hoje geram apenas para o autoconsumo. Além do ganho de eficiência dessas usinas, outro ponto a considerar é o uso de outros resíduos. Caso todas as usinas se utilizassem da palha da cana, seria possível adicionar 11,2 GW de potência. Somados aos 11,6 GW já existentes, a capacidade instalada poderia chegar a 22,8 GW — 97% de potencial de crescimento. A estimativa considera os 642 milhões de toneladas de cana na safra de 2019/2020, segundo dados da UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).

Além disso, cabe ressaltar que o programa RenovaBio (Política Nacional de Biocombustíveis, instituído pela Lei nº 13.676/2017) propõe, até 2030, elevar a produção anual de etanol de 35 para 50 bilhões de litros. Este salto produtivo significará uma moagem adicional de aproximadamente 200 milhões de toneladas de cana por safra. Com este incremento, e considerando-se a utilização da palha da cana, em teoria, o potencial adicional seria de 7,1 GW.

No grupo da biomassa dedicada, o PDE poderia estudar o potencial na Zona da Mata, na região Nordeste. Segundo cálculo da Koblitz Energia, associada da Cogen, as chamadas florestas energéticas possuem mais de 2 milhões de hectares subutilizados, o que poderia representar mais de 10 GW adicionais de capacidade instalada.

Não é novidade que as chamadas novas fontes renováveis venham ganhando crescente espaço na matriz elétrica do país. Entretanto, em função da intermitência dessas fontes, é inevitável a necessidade de complemento de geração por intermédio de fontes fósseis ou armazenamento, como backup.

Entendemos que a expansão deveria também ser pautada em fontes de energia que possam contribuir com os atributos necessários ao setor, provendo uma energia renovável, com previsibilidade, inércia, confiabilidade e distribuída, ou seja, próximas às cargas. É exatamente essa a relevância da cogeração movida a biomassas residuais, dedicadas e a biogás.
Dessa maneira, sugerimos que, na próxima edição do PDE, sejam reconsideradas as potencialidades das biomassas residuais, dedicadas, e do biogás.

Newton Duarte é presidente executivo da Cogen (Associação da Indústria da Cogeração de Energia)